domingo, 18 de maio de 2014

Sob a Pele

Show me the world as i´d love to see it.


Faltam-me palavras para descrever minha experiência com Sob a Pele. Não falo isso no sentindo genérico do filme ser “Uma experiência cinematográfica como nenhuma outra”. Não me entendam mal, ele é, porém minha dificuldade é  descrevê-lo, e não em  achar elogios para o filme de Jonathan Glazer.

Não há muito a se dizer sobre a história, ela é mais contemplada do que narrada. Criatura, Scarlett Johansson, vagueia pelas ruas de Glasgow, seduzindo e matando homens para manter-se viva. Diálogos escassos complementam a narrativa, que apoiada na atuação de Johansson, conduz o espectador num filme extraordinário. Mesmo flertando com a ficção científica, Sob a Pele está mais para filme de terror, com seus sons e chiados agonizantes que remetem a Eraserhead (David Lynch) sua fotografia em cores frias que lembram O Exorcista (William Friedkin) e o seu clima claustrofóbico a lá Enigma de Outro Mundo (John Carpenter). 

Não faltam jogos de artifícios ao filme, indo da utilização da ambiência sonora ao redor da personagem, do ritmo hitchcockiano da montagem nas cenas de sedução, passando pelos quartos escuros que permeiam todo o filme. Esses truques garantem, antes de tudo, que o filme funcione bem como suspense. A escassez de secundários é compensada na profundidade da protagonista e nas belas paisagens escocesas. Tornando assim, a imersão, absoluta, onde Glasgow se revela tão estranha e extraordinária para nós, como é para a protagonista. Dito isso, atesto que o grande charme do filme está em ser seduzido constantemente a adentrar na pele de Johansson, que fornece sua melhor atuação em um bom tempo. Seja através de seu olhar desolador, que se revela uma paisagem em si, seja do nosso anseio por explicações, somos atraídos por sua natureza, quase como suas vítimas. Se a escolha de Scarlett parece óbvia devido a sua beleza, o filme opta por torna-lá sensual ao se movimentar e ao provocar,  porém assexuada em relação a seu corpo. Talvez o melhor exemplo seja na cena de sexo, onde toda e qualquer sensualidade da atriz desaparece, dando lugar a mais pura sensação de vazio. Iniciando sua jornada por puro instinto, com uma das cenas de "parto" mais estranhas do cinema, indo a confusão da racionalidade, essa Femme Fatale Noir vai se revelando cada vez mais fascinada e assustada por si, o que torna a personagem incrivelmente humana. O paralelo com as leituras humanas da personagem acaba sendo inevitável, a busca de Johansson é partilhada por nós,Glazer consegue fazer do filme uma fascinante reflexão sobre o que é "ser" humano em seu meio. E por meio, eu me refiro a barulho, caos e violência, onde Johansson é atirada desde seu "parto". Apesar dessa minha leitura, o filme nunca se fecha totalmente sobre ser uma alegoria sobre os seres humanos. Em sua maior parte, o filme é um mergulho profundo em imagens estranhas e sons amedrontadores. Mas durante esse mergulho é inegável que Sob a Pele diz mais sobre "nós" do que sobre sua protagonista.

Apesar de ainda ter muitos pontos não digeridos, um aspecto negativo fica por conta das viradas de roteiro que ocorrem com Johansson, que até agora se revelam muita obvias para mim. Em um filme onde o choque de som e imagem é vital, viradas de roteiro deveriam ser mais sutis. De qualquer forma, é um detalhe pouco incômodo. Onírico e visualmente arrebatador, o filme se mostrou a altura das minhas expectativas, sendo uma das melhores experiencias de se assistir no cinema dos últimos anos. Mesmo com a pequena participação nos cinemas brasileiros, acredito que Sob a Pele ainda será exaustivamente debatido e apreciado, como lhe é merecido.

Música do título: "Subterranean Homesick Alien", Radiohead.

Link do IMDB: http://www.imdb.com/title/tt1441395/ 

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