quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Cinquenta Tons de Cinza

É complicadíssimo se relacionar positivamente com um filme que expõe excessivamente seus personagens, aniquilando quaisquer outras dimensões que adicionem algo além do que é explicitado já nos primeiros minutos. Refletindo para mais desse assunto, Cinquenta Tons de Cinza é um conto de fadas alienado sobre a busca pelo príncipe encantado.

Conto de fadas romântico estilo “menina quer fazer do bad boy, um príncipe”. Sendo que o bad boy é controlador e sádico, causando algumas dúvidas na menina. Nada de reflexões sobre sexualidade ou sobre relacionamentos (amorosos ou não), aqui sexo é um tabu: seja pela excentricidade que se aplica ao bad boy Christian (Jamie Dorman), ou pela formalidade excedente com que visam caracterizar Anastasia (Dakota Johnson). Ou seja, sexo não é algo natural e sim uma anormalidade: tanto pela falta (ela), como pelo excesso (ele). Então, esse é um filme que julga seus personagens por suas condutas (Hollywood, Kids) e sufoca qualquer chance de "a partir" dos personagens dizer algo interessante e não moralista.

Cinquenta Tons de Cinza tem uma preocupação clara em justificar o receio de sua protagonista ao sadomasoquismo porque isso é oposto à ideia de príncipe encantado que Anastasia tem. Sua protagonista jovem, reprimida e virgem é dessa maneira, pois estava “esperando” o rapaz certo. Penso eu, que o filme sente a necessidade em mostrar o quanto a protagonista precisava de um homem dominador para salvá-la de sua existência, supostamente medíocre. Nesse sentido, injetar machismo em doses histéricas a uma narrativa sobre libertação é simplesmente imperdoável.

É Alienado porque reduz sua protagonista a um conceito preconceituoso, e não estou falando das cenas "polêmicas". Existe uma negação feminina em um filme que justamente se propõem a ser sobre a libertação (e suas consequências) de sua protagonista. Anastasia Steele (Dakota Johnson) é uma coletânea de caras e bocas fetichistas do universo feminino. Ela morde os lábios porque se sente nervosa, fala “oh my” porque se excita e é virgem por causa de um moralismo do roteiro em achar que assim seria mais chocante sua submissão a Christian. Uma boneca manipulada para o prazer masculino. Seu ser e sexo são dominados por limitações que a impedem de ser um elemento interessante em seu próprio filme. “Sexo”, porque essa  narrativa supostamente tenta fazer do  ato sexual como sua força motriz, mas ao colocar cenas exageradamente enfáticas de elevação espiritual a obra se torna risível. Música clássica, slow motion, piano pós sexo e close ups, tentam  provar que esse filme é chique e sério em sua busca em retratar um sentimento transcendente. É tão evidentemente forçado que o filme perde a graça. 

Mas por detrás do machismo, existe um filme fotograficamente bonito e “clean”, reconheço que a diretora Sam Taylor possui um senso de espaço que impressiona, existe uma composição pensada. Uma pena que serve a um filme completamente medíocre. Como disse, é  um caso complicadíssimo. 

Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2322441/ 
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