Fuck Yeah!
Lançado
em 2004, Team America - Detonando o
Mundo (Trey Parker), pegou embalo em duas coisas: A corrida presidencial
americana no auge da guerra no Iraque/Afeganistão e no excesso de filmes de
ação produzidos em Hollywood. O filme tecia críticas mordazes – e hilariantes,
diga-se de passagem- ao policiamento dos Estados Unidos no mundo. Personagens
chegavam com seus tanques, helicópteros destruindo metade de Paris em busca de
terroristas e ao fim da missão diziam aos parisienses: “Não se preocupem, a
ameaça se foi”. A produção sabiamente utilizou marionetes e cenários artesanais
para enfatizar a artificialidade da obra. Um filme que ridiculariza sua mise em
scène em prol da sátira política. Afinal de contas esse é um filme aonde o mito
do herói é destroçado em situações constrangedoras, onde os brinquedos bélicos
dominam a cena (causando a destruição desnecessária do Louvre) e onde a canção
tema se chama “America! Fuck Yeah!”. Uma gargalhada sobre a real possibilidade
do ser humano causar sua extinção. Penso eu que Parker entende a impossibilidade de qualquer seriedade em seu
filme, restringindo-a aos questionamentos do espectador diante daquilo que vê.
Vingadores: Era de Ultron (Joss
Whedon) tem armas bélicas, CGI aos montes e histeria por
seus personagens. É notável o
encantamento infantil que Whedon tem
por seus heróis, percebe-se o desejo em fazê-los ter o mesmo peso emocional na tela.
Uma pena que seu roteiro acaba por cair na armadilha de servir apenas aos
maneirismos dos mesmos. Fazendo-o soar como um Team América sóbrio.
Aqui
as pessoas estão bastante sérias, sofridas e determinadas em resgatar o mundo
da provável extinção arquitetada pelo vilão Ultron (James Spader). “Mal” esse que se forma pelas mãos dos próprios
heróis - salvadores do mundo. Em seu início, Vingadores
parece ter o desejo de alertar sobre catástrofes feitas pelo homem, até pela
maneira como Ultron se apresenta, remetendo a um ser grotesco criado pelo uso
das inovações tecnológicas de maneira irresponsável. Consciente de sua natureza,
o vilão funciona como um niilista, se opondo as utopias humanas que os personagens e próprio filme
piamente acreditam. Minha empolgação se deu na expectativa do choque entre a polarização do caos e da fraternidade. Porém se em seus primeiros trinte minutos, Vingadores abre espaço para
reinterpretações da figura do herói ( e suas consequências), ele passa o restante de suas horas se
sabotando com a típica mesmice da Marvel Studios.
“Todo filme da Marvel é igual”, crítica que é feita cada vez mais. Se por um
lado pode parecer rasa, por outro demonstra cada vez a falência da produtora em pensar e
fabular seus heróis além do que é esperado deles. Vingadores: Era de Ultron talvez seja um dos maiores exemplos
disso. As afetações dos personagens se tornam mais importante do que a
própria narrativa, o que é vendido são produtos da cultura pop. Não há representações dos heróis para além de suas habilidades especiais, são fantoches armados
que visitam países “exóticos” na África e Ásia e destroem tudo em nome da “salvação
da terra”. O que havia me agradado no filme era a aparente conscientização a lá
Team América de sua diegese, porém
ele cede ao entretenimento oco e risivelmente sério.
Vingadores também não consegue ser esteticamente interessante. Os últimos filmes do estúdio são
estéreis: mesmos efeitos, mesmas piadas fora de tom, mesmos finais, mesmos prédios
gigantes caindo. A crítica rasa permanece, uma pena, existia bastante
potencial. Talvez quando pararem de produzirem filmes sobre bonecos de ação e
apostarem em imagens inusitadas e sobre o que elas representam, teremos filmes
que saiam tão interessantes quanto o material de origem.
Link IMDB: http://www.imdb.com/title/tt2395427/
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