quarta-feira, 6 de maio de 2015

Vingadores: Era de Ultron

 Fuck Yeah!

Lançado em 2004, Team America - Detonando o Mundo (Trey Parker), pegou embalo em duas coisas: A corrida presidencial americana no auge da guerra no Iraque/Afeganistão e no excesso de filmes de ação produzidos em Hollywood. O filme tecia críticas mordazes – e hilariantes, diga-se de passagem- ao policiamento dos Estados Unidos no mundo. Personagens chegavam com seus tanques, helicópteros destruindo metade de Paris em busca de terroristas e ao fim da missão diziam aos parisienses: “Não se preocupem, a ameaça se foi”. A produção sabiamente utilizou marionetes e cenários artesanais para enfatizar a artificialidade da obra. Um filme que ridiculariza sua mise em scène em prol da sátira política. Afinal de contas esse é um filme aonde o mito do herói é destroçado em situações constrangedoras, onde os brinquedos bélicos dominam a cena (causando a destruição desnecessária do Louvre) e onde a canção tema se chama “America! Fuck Yeah!”. Uma gargalhada sobre a real possibilidade do ser humano causar sua extinção. Penso eu que Parker entende a impossibilidade de qualquer seriedade em seu filme, restringindo-a aos questionamentos do espectador diante daquilo que vê.


Vingadores: Era de Ultron (Joss Whedon) tem armas bélicas, CGI aos montes e histeria por seus personagens. É notável o encantamento infantil que Whedon tem por seus heróis, percebe-se o desejo em fazê-los ter o mesmo peso emocional na tela. Uma pena que seu roteiro acaba por cair na armadilha de servir apenas aos maneirismos dos mesmos. Fazendo-o soar como um Team América sóbrio.

Aqui as pessoas estão bastante sérias, sofridas e determinadas em resgatar o mundo da provável extinção arquitetada pelo vilão Ultron (James Spader). “Mal” esse que se forma pelas mãos dos próprios heróis - salvadores do mundo. Em seu início, Vingadores parece ter o desejo de alertar sobre catástrofes feitas pelo homem, até pela maneira como Ultron se apresenta, remetendo a um ser grotesco criado pelo uso das inovações tecnológicas de maneira irresponsável. Consciente de sua natureza, o vilão funciona como um niilista, se opondo as utopias humanas que os personagens e próprio filme piamente acreditam. Minha empolgação se deu na expectativa do choque entre a polarização do caos e da fraternidade. Porém se em seus primeiros trinte minutos, Vingadores abre espaço para reinterpretações da figura do herói ( e suas consequências), ele passa o restante de suas horas se sabotando com a típica mesmice da Marvel Studios.

“Todo filme da Marvel é igual”, crítica que é feita cada vez mais. Se por um lado pode parecer rasa, por outro demonstra cada vez a falência da produtora em pensar e fabular seus heróis além do que é esperado deles. Vingadores: Era de Ultron talvez seja um dos maiores exemplos disso. As afetações dos personagens se tornam mais importante do que a própria narrativa, o que é vendido são produtos da cultura pop. Não há representações dos heróis para além de suas habilidades especiais, são fantoches armados que visitam países “exóticos” na África e Ásia e destroem tudo em nome da “salvação da terra”. O que havia me agradado no filme era a aparente conscientização a lá Team América de sua diegese, porém ele cede ao entretenimento oco e risivelmente sério.

Vingadores também não consegue ser esteticamente interessante. Os últimos filmes do estúdio são estéreis: mesmos efeitos, mesmas piadas fora de tom, mesmos finais, mesmos prédios gigantes caindo. A crítica rasa permanece, uma pena, existia bastante potencial. Talvez quando pararem de produzirem filmes sobre bonecos de ação e apostarem em imagens inusitadas e sobre o que elas representam, teremos filmes que saiam tão interessantes quanto o material de origem.

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