quinta-feira, 11 de junho de 2015

Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros.

 That´s Entertainment.

Em algum momento de Jurassic World (Colin Trevorrow), Clare (Bryce Dallas Howard) comenta a dificuldade de surpreender e manter a atenção de pessoas que já viram um dinossauro: “Nos anos 90 era incrível, 20 anos depois o interesse diminui”. Os répteis ressuscitados por meio da genética são parte de um grande freak show do entretenimento, mas o simples fato de tê-los andando sob a terra após 65 milhões de ano já não representa muita coisa numa sociedade que busca consumir o máximo e aproveitar o mínimo. Certamente, deve ter sido incrível assistir a Jurassic Park em 1993. Continuou a ser anos depois, quando assisti e fui encantando pela capacidade de Steven Spielberg em recriar os dinossauros. Quase 20 anos após Tubarão (1975) - um dos melhores filmes de monstros - Jurassic Park mostrou que seu diretor continuava hábil em brincar com nosso imaginário. Dinossauros e Tubarões provocavam fascínio e medo não só pela qualidade dos efeitos, mas devido ao fato que Spielberg sabia quando mostrá-los. Ele entedia que seus monstros provocavam expectativas justamente por existirem na tela do cinema. Um excitamento infantil em acreditar que tais criaturas existem. Todo o filme funciona como um retorno para essa ingenuidade, até a própria carreira de Spielberg pode ter interpretação semelhante. Jurassic World é nada mais, nada menos que uma tentativa de voltar ao filme de 93, porém ele admite sua incapacidade em ser algo impactante como o original foi. E se não há espaço para a beleza do primeiro filme, há um apreço pelo humor da auto parodia, que em si é uma espécie de beleza.
Lindo <3
A nostalgia impera no filme: personagens comentam sobre o antigo parque, onde “existiam dinossauros de verdade”. Algumas cenas do primeiro filme são recriadas, a música tema de John Williams é usada constantemente e até um dos atores (BD Wong) retorna ao mesmo papel.  Essa “homenagem” histérica ocorre como forma de expor o abismo que separa um filme do outro, tecendo diversos comentários sobre a indústria de entretenimento na qual ambos filmes foram produzidos. Enquanto o filme de Spielberg possui o fascínio em mostrar/ esconder seus monstros, o filme de Trevorrow entende que após 20 anos de excesso do CGI os mesmos monstros não impressionam ninguém. A indústria de entretenimento é completamente metaforizada em Jurassic World, especialmente na atração principal do filme: O Indominus Rex. "Faça-o maior e mais legal", comenta o dono do parque. Um dinossauro criado a partir de vários outros para manter as atrações com ar de novidade. Penso eu que tal dinossauro é a própria Hollywood fabricando o filme. Colando diversos retalhos referentes ao filme original, bem como lutando para manter o interesse dos espectadores por uma velharia. Jurassic World não ativa suspense, drama, ele é um produto Kitsch conscientemente dependente de seu passado, reduzindo-o a banalidade do cinema blockbuster contemporâneo. É tudo um jogo de representações e arquétipos. Owen (Chris Pratt) não é um herói, é um wannabe, assim como diversos outros personagens. O filme é uma grande gargalhada: Frases de efeito propositalmente hilárias, CGI em excesso, situações extravagantes de “Oscar Cameos” como seus monstros correndo em slow motion. A artificialidade hollywoodiana – bem como sua honestidade em revelar o fundo de seu ar- raramente é exposta dessa maneira.
Exemplificado nos irmãos protagonistas encontra-se a própria dicotomia do filme. Gray (Ty Simpkins) o caçula é encantado por dinossauros e demonstra empolgação a cada novo bicho. A criança inocente que é facilmente impressionada, aquela que Spielberg tenta trazer a tona em seus filmes. Já Zach (Nick Robinson) é o típico adolescente entediado até para ver um T-Rex. Representativo da outra parte do público que tanto os organizadores do parque quanto o filme tenta chamar atenção. A metalinguagem funciona, pois ela se formata em críticas ao caráter (aparentemente) estéril e ordinário do filme.

Porém como brincadeira camp, ele não deixa de apresentar certo sexismo na relação de Owen e Clare, como também se apoia de clichés batidos como a do personagem negro sempre ser amigo do protagonista, nunca ganhando uma linha narrativa interessante. Diferentemente dos outros clichés bem trabalhados no filme, esse racismo e machismo ainda representam o conservadorismo hollywoodiano. De resto, fica a boa surpresa da mistura de referências com estéticas inusitadas para forma um filme ridículo que é consciente das limitações de seu gênero.

                
                Música do título: 

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